quinta-feira, 10 de março de 2011

A Física e a máquina de café

Estava há vários dias em um hospital acompanhando um familiar com a saúde bastante debilitada. Após noites insones, decidi apelar para a miraculosa cafeína - substância alcalóide que as plantas usam como defesa contra herbivoria. Fui à máquina e depositei um singela moeda de 1 real e o que se sucedeu não será motivo de espanto para o leitor assíduo desse blog: ela regurgitou a moeda! Renitente, tornei a repetir o processo por mais 5 ou 6 vezes sempre obtendo o mesmo resultado. Incoformado vasculhei no meu arquivo metal os mais sujos impropérios que um homem pode dizer. Lembrei até de amaldiçoar a mãe, o pai, os filhos, os netos e bisnetos do engenheiro que havia concebido aquela invenção.
Minha ira só foi contida por uma doce senhorita que, no alto dos seus 1,56m, alertou-me para o fato da moeda estar magnetizada. Claro! Como não pensei nisso antes?! Todas as minhas aulas de física teriam sido em vão? Tanta massa cinzenta pra nada? Disfarcei elegantemente e bati várias vezes a moeda para desmagnetizá-la. Finalmente, obtive meu delicioso capuccino com chocolate e, de brinde, uma dúvida: O que acontece quando se bate um metal para desmagnetizá-lo? Tão logo tive acesso à internet fui procurar pela resposta e eis o que encontrei:


No final das contas, uma simples moeda renegada me levou a um novo conhecimento. Isso é que eu chamo de sair no lucro... 

sábado, 22 de janeiro de 2011

Deve ser brincadeira, Sr. Feynman.

A imagem mais difundida do cientista é a do cara louco e misantropo que vive em um laboratório fazendo experimentos bizarros. Uma variante desse estereótipo é a do jovem nerd que usa óculos com lentes grossas, tem uma calculadora no bolso e nenhuma habilidade social...
Pois bem, esses tipos popularizados pela mídia nunca foram o forte de Richard Feynman. Quem? Sim, você pode até nunca ter ouvido falar nele, afinal seu nome não é tão popular que Einstein ou Stephen Hawking, mas garanto: foi no mínimo tão bom quanto eles!
Dono de um bom humor contagiante e de grande popularidade entre as mulheres, Feynman foi o avesso dos insipidos bitolados dos filmes norte americanos. Formou-se em Física no MIT, pós-graduou-se em Princenton, foi professor de Cornell e, depois, do Caltech e participou do Projeto Manhattan. Sua área era eletrodinâmica quântica mas Feynman não se contava em saber "apenas" isso: era poliglota (falava inclusive português), gostava de decrifrar hieróglifos maias, conhecia arqueologia, história da arte e também adorava aprender a tocar novos instrumentos musicais http://www.youtube.com/watch?v=HKTSaezB4p8 . Foi dono de um método de ensino tão popular que virou livro: "Feynman lectures on Physics". Seus alunos adoravam seu método estimulante de ensinar e ele sempre recorria a situações do cotidiano em vez de ficar preso a exemplos acadêmicos.
Um belo dia, a convite de Jayme Tiomno, veio ao Brasil ministrar algumas aulas no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Sua estada em território tupiniquim foi tão interessante que originou mais um livro: "Deve ser brincadeira, Sr. Feynman". Nesse livro, o físico conta sua experiência com o carnaval - sim, ele desfilou fantasiado de grego e tocando tamborim! -  e faz críticas duras ao nosso sistema de educação. Encarregado de dar aulas para um grupo de estudantes de física, Feynman descobre que eles sabiam tudo decorado. Simplesmente não havia pensamento crítico naqueles estudantes e, ao final de sua temporada no país, ele faz um discurso perante as "autoridades" na área de educação revelando quão fracassado era o nosso sistema de ensino em Física (não deveria ser diferente em biologia, por exemplo) chegando a revelar depois que "os basileiros são o povo que mais estuda física e o que menos sabe..."




Obs: O filme "Além do tempo" conta a parte dramática da biografia de Feynman e infelizmente não mostra seu lado mais marcante: o humor

Área Fusiforme da Face: dois lados da mesma moeda!

Em seu espetacular livro "O mundo assombrado pelos demônios", Carl Sagan fala sobre nossa capacidade de reconhecer faces humanas e de como essa habilidade foi importante ao longo do processo evolutivo. Imagine confundir o rosto de um inimigo com um amigo e convidá-lo para jantar em sua casa, ou ainda, cuidar dos filhos alheios enquanto sua própria prole é abandonada ao acaso... Pois bem, essa mesma capacidade de perceber faces que "salvou" a humanidade de várias situações perigosas também pregou muita peça ao longo da nossa história. Não são raros os relatos de pessoas que vêem figuras humanas esculpidas em formações rochosas, imagens sagradas em janelas de vidro, desenhos na Lua, face humana em Marte, etc. e passam a acreditar que algum deus ou alienígena (ou ambos) está tentando se comunicar conosco.
A área do cérebro responsável pelo reconhecimento facial se chama: "Área Fusiforme da Face" e se localiza na superfície do lobo temporal no giro fusiforme (figura). Quando essa estrutura falha, temos uma doença chamada de prosopagnosia que nos impede de reconhecer rostos.
Um fato curioso é que enxadristas consagrados como a húngara Judit Polgár - treinada intensivamente pelo pai László Polgár desde os 4 anos de idade - usam essa região para reconhecer as "feições" de uma partida de xadrez. É como se cada disposição das peças fosse um rosto de modo que a enxadrista sabe exatamente qual peça mexer baseando-se nos resultados de partidas anteriores. Isso foi revelado através da uma ressonância magnética que mostrou que AFF estava em intensa atividade.